A febre dos Labubus: desejo genuíno ou manipulado?
Eles são fofos, colecionáveis, irresistivelmente virais. E se tornaram símbolos de status. Descubra o motivo dessa obsessão nada inocente
Os olhos são desproporcionais, as orelhas lembram um coelho mutante e o sorriso parece mais uma careta debochada. O Labubu é um boneco estranho — e, justamente por isso, fascinante. Pequeno, colorido, meio assustador. O tal it toy do momento virou a internet do avesso ao aparecer pendurado nas bolsas de quem quer parecer antenado. Mas o que muita gente ainda não sabe é que ele nasceu muito longe do universo das blogueiras ou das lojas que vendem itens milionários. O Labubu é uma criação da artista Kasing Lung, de Hong Kong, e integra a linha de art toys da gigante asiática Pop Mart.
A Pop Mart começou como uma loja de design e se transformou numa gigante do entretenimento colecionável. Seu modelo de negócio aposta na lógica do blind box: você compra uma caixinha sem saber qual versão do personagem vai receber. E, no universo dos Labubus, as possibilidades são quase infinitas, as edições mais famosas se chamam: Exciting Macaron Series, em tons pastéis inspirados em macarons (sim, o famoso docinho francês), com nomes como Lychee Berry e Sea Salt Coconut; Space Adventure Series, em trajes espaciais, explorando o universo com visuais futuristas. Angel in Cloud, uma edição especial que retrata os bichinhos como um anjo entre nuvens, com detalhes etéreos e delicados. Happy Halloween Party Series, com temática de Halloween, incluindo um modelo vestido como abóbora, lançadas em setembro de 2024, e por aí vai, a lista é grande!
Todos seguem essa estética bizarra de fofurices de Kasing, misturando traços infantis com uma visual levemente macabro — como se fossem personagens que escaparam de um sonho esquisito.
O estouro do Labubu como acessório de moda não veio de uma estratégia de marketing tradicional. Foi quase orgânico — ou, como se diz na linguagem das redes, “viral”. O turning point veio quando Lisa, integrante do BLACKPINK, postou uma foto usando o chaveiro pendurado em sua bolsa da Hermès. Foi o bastante para acender a faísca: o monstrinho saiu da bolha coreana e caiu no colo do mainstream.
Desde então, se espalharam como uma espécie de praga fofa entre fashionistas do TikTok, usuários do XiaoHongShu (a rede social chinesa que dita tendências na Ásia) e, claro, nas ruas de São Paulo. Mais do que um item de estilo, ele virou um sinal silencioso de pertencimento: se você tem um, é porque capta os códigos certos. Se ainda por cima sabe identificar os modelos raros, então está no nível avançado da coreografia social do consumo.
Os Labubus até flertavam com o discurso do “diferente”. Um monstro esquisito, colorido, pendurado numa bolsa de luxo era, em tese, uma oposição ao clássico. Uma rebeldia estética. Mas essa rebeldia foi rapidamente absorvida. Como alerta o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, vivemos numa era em que o imperativo da diferenciação se mistura perigosamente com o da performance: somos levados a parecer únicos, mas dentro de moldes cada vez mais padronizados. E os Labubus se encaixam perfeitamente nisso — são infantis, mas sofisticados. Bizarros, mas desejáveis. O tipo de objeto que só faz sentido para quem decodifica os sinais certos da cultura do consumo.
O resultado é que, ironicamente, o Labubu virou uniforme. Cada vez mais bolsas repetem o mesmo acessório, na mesma posição, com o mesmo significado: sinalizar que você faz parte. Que você pertence. Ele deixou de ser um gesto criativo e virou obrigação performática — da mesma família das garrafas da Stanley, dos tênis Adidas Samba onipresentes, dos óculos com padronagem de tartaruga e das capinhas de celular com correntes coloridas. Itens diferentes, mas todos marcados pela mesma urgência: não ficar para trás na corrida estética do momento.
Afinal, quanto custa parecer, de fato, interessante?
Por trás da febre, há algo mais profundo do que o desejo de parecer fofo ou atualizado. O Labubu toca num ponto sensível da juventude contemporânea: o medo de não ser visto. Em tempos de redes sociais em permanente vigília, estamos sempre um passo atrás do próximo “estilo TikTok” ou “trend do Pinterest”. Ninguém quer ser a pessoa que ainda não sabe o nome daquele boneco estranho — ou pior, que não tem um.
No fim, a questão que fica é: quem está escolhendo o quê? O consumo de Labubus — e de toda essa categoria de trend toys — revela um paradoxo da nossa era: buscamos objetos que nos diferenciem, mas só os desejamos quando todos os outros já os têm. A estética vira um produto de série, e o estilo, uma corrida para não ficar para trás.
Talvez devêssemos nos perguntar: o que exatamente estamos tentando carregar com eles? Individualidade? Aprovação? Ou só mais uma tentativa de preencher o vazio de sermos sempre versões do mesmo?
Confesso que depois de tantos dias observando e rolando timelines repletas de Labubus pendurados em bolsas estilosas, comecei a desejar um também. Depois de um bom tempo, ele começou a parecer fofo. A parecer necessário. A parecer meu.
Mas é justamente aí que mora o desconforto. Esse desejo é mesmo meu? Ou é só o eco de tantos outros que fui absorvendo sem perceber? Até que ponto estamos consumindo porque queremos — e não porque fomos treinados a querer?
Nunca compraria um Labubu, pois não tem absolutamente nada a ver comigo, mas achei muito curiosa a origem deles. Estou vendo esses monstrinhos em toda parte e não fazia ideia de como ou onde começou isso. Obrigada por compartilhar!
Eu queria um quando só eu sabia o que era labubu e explicava pra todas as minhas amigas a nova moda. Até que uma delas usou o termo numa frase cotidiana, ela tinha entendido o que era um labubu… nesse momento perdeu totalmente o sentido ter algo conhecido do público (minhas amigas) kkkkkkk